"Que deixava no balcão ao sair, juntamente com a nota de dez."
Assim que chegava ao carro, verificava sempre o bolso interior do casaco. O alto disforme confirmava. O anel estava lá.
A rotina disfarçada permanecia. A quase aliança. A quase esperança. Os quase poemas inspirados.
Nesse dia, a neve na estrada rotineira obrigou-o a um rumo diferente. Acompanhava o rio. Parou o carro. Estava na beira da ponte. Não conseguia perceber porquê. Logo ele, que tinha vertigens. Olhou para o fluir da água e desejou fazer parte daquela força.
Encolheu-se no casaco, mas a alma não aqueceu.
Inesperadamente o seu pé escorregou. Agarrou-se com toda a força à estrutura metálica. No peito sentia um bater desenfreado. Afinal ainda não estava pronto.
Começou como um esgar nos lábios e depressa se tornou num riso nervoso e contido. Riu alto. Riu muito. Há tanto tempo que não ria. Soube-lhe bem.
O quase não era suficiente.
Deu um berro. Deu outro. Berrou até ficar sem voz. As lágrimas que esperavam há muito, saíram. Os olhos cansados tinham, finalmente, paz e liberdade.
Levou a mão ao bolso perto do coração. E atirou o último quase ao rio.
4 comentários:
Olá :)
Desculpem postar mais cedo, mas o meu dia vai começar a complicar-se... Depois não tenho a certeza se consigo vir a horas de jeito.
:*
Olá Isabel
É verdade, às vezes somos QUASE felizes mas algo falha ou pior, não reparamos ( acho que não desiludiste a Cristina ). ;)
o quase é sempre a ponte, entre um e outro lado do rio. o quase é a vida - quase feliz, quase triste, quase nossa. O quase somos nós: quase a querer, quase a desejar, quase a não entender. Adorei o quase, os quase poemas, a quase vida. e o quase ao rio. Lindo, Isabel :)
Gostei muito deste grito. Sente-se o sufoco, Isabel. Parabéns!
Há coisas que custam a sair. Sejam elas gritos, desilusões ou alianças.
Enviar um comentário