TEMPO

Chove. Há um cão vadio e uma mulher casada carregada de sacos, sob o toldo do café, à espera de uma aberta. Ele aquieta-se, acoita-se e recolhe-se num sono profundo. Ela inquieta-se, assoma-se e crispa o rosto num desassossego crescente de olhos postos no relógio que corre, num aviso que o tempo é uma viagem sem regresso. Chove. E os automóveis que vão rareando, nestas alturas amontoam-se deixando a rua trôpega. O cão incomodado com o barulho das buzinas, abandona o palco onde a chuva teima em impor a sua lei. A mulher faz sinal a um Táxi e penetra-o numa amálgama de sacos. No entanto, o Táxi está imobilizado naquele cortejo improvável. Talvez o medo se tenha estendido à meteria inanimada. Só o cão e o tempo, parecem ter compreendido a inutilidade de esperar por uma aberta e seguiram o seu destino. Ou, um por não ter destino e o outro por ter o tempo todo, são livres.

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