No cais conheci a morte. Os seus rituais. O peso do seu vazio esmagador. Naquela manhã havia um nevoeiro intenso sobre o rio e tempestade no mar. O cais ia-se enchendo de gente trajada de um negro contrastante com a ansiedade pela chegada do navio. Um homem atravessa a multidão aos gritos e anuncia. – O mau tempo não permite que se aproximem da barra, vão ficar ao largo até o tempo melhorar, talvez amanhã, podem ir para casa não vale a pena ficarem aqui -. A horda anuiu e dispersou. Na manhã seguinte quando cheguei ao cais lá estava ela, a morte em todo o seu esplendor. Uma vaga de mar virara o barco, ali, a pouco mais de uma milha do cais. A fúria das ondas e o nevoeiro, haviam impedido as operações de salvamento. Nas horas que se seguiram a maioria dos homens desapareceu, ali, quase aos pés de quem os esperava há tanto tempo. – Ai ! o meu querido filho ! Ai ! o meu homem ! Ai ! meus filhos que vai ser de nós! Aiiii ....
E eu estarrecido tentando subtrair-me à tragédia. Lembro-me da boca seca, as costelas a comprimirem os pulmões e o coração até à asfixia, um silvo a trespassar a cabeça por entre os gritos à minha volta e a morte ali exibindo a sua coreografia apoteótica e apocalíptica.
Nos dias seguintes o cais estava deserto. Apenas coroas de flores a boiar no rio. O regresso à rotina fez-se de sombras no lugar de homens, até o intenso nevoeiro das almas se dissipar.
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