sapatos e cartas*

Chamaram-lhe Vitória depois da mãe morrer de parto ao dá-la à luz. Dar à luz quando se morre é por demais triste mas eles quiseram que ela se chamasse Vitória e quiseram empregar a expressão da luz apesar da escuridão. Cresceu entre os silêncios do pai, os desatinos da avó e as exigências da tia. Conheceu 22 madrastas e viu o pai beijocar pelo menos mais sete às escondidas (achava ele). Da mãe durante muito tempo, tanto tempo, soube pouco, umas quantas fotografias amarelecidas pelo tempo, páginas rasgadas de um diário que revelava mais de um dia-a-dia sem sal do que a pessoa que eventualmente havia sido. Mas um dia, entre uma lida e outra da casa, descobriu um alçapão macerado pelo tempo. Lá dentro, uns sapatos vermelhos e um maço de cartas por ler. Bastou-lhe isso, bastava-lhe isso. não eram dela, eram da mãe, mas assim cumássim ela já não estava. Calçou-os e dançou até à meia noite. Vitória, que nome tão lindo quando se nasce uma segunda vez.

*a inspiração demorou. ainda está a caminho, devagar. desculpem-me mas compreendam-me :) espero que seja desta :)

4 comentários:

CNS disse...

É bom ter-te de volta Martita. Parece que foram precisos estes sapatos vermelhos para te trazerem de volta ao "Kansas".

Bela herança, a da Vitória.

bjs

MMS disse...

Obrigada, Cris :) E, demore mais ou menos tempo, haverá sempre uma réstia de inspiração para o nosso 'Kansas' :) beijo grande

Isabel J. disse...

There's no place like home! :)

Tenho saudades vossas, meninas.

:*

MMS disse...

Também tenho saudades vossas*