Elvira Madigan

Sempre que via aquela fotografia comovia-se. Porque se imaginava assim, quando chegasse aquele tempo. Quando as rugas das suas mãos se encaixassem nas dele. Ele, cujo nome ainda não conhecia. Só sabia que tinha um sorriso terno enquanto tocava o piano do salão. Conhecera-o naquela passagem de ano em casa do tio. Parecia-lhe que fora ontem, tão nítidas eram as imagens e os cheiros. Olhos cerrados e dedos longos sobre o piano, ao fundo da sala, junto à janela que dava para o terraço. Ela, vestida com os seus grandes olhos azuis,  achou que ele tinha umas mãos lindas. Sorriu. Apaixonara-se nessa noite por elas. E como ela queria que o amor por aquelas mãos durasse até ao tempo daquela fotografia. Suspirou. A música do piano subia as escadas. Ele estava lá em baixo, no salão. Levantou-se para escolher um lenço que lhe realçasse os olhos. Ele gostava de a ver de azul.
A porta do quarto abriu-se. Uma rapariga de olhos tão azuis quantos os seus entrou no quarto. Abraçou-a por de trás e sorriu-lhe pelo espelho. A por-se bonita, avó?. Ela encolheu os ombros envergonhada. Gostava daquela rapariga de quem não se lembrava o nome e que lhe teimava em chamar avó. Ela, que ainda era tão nova, a ouvir a música do piano debruçada na varanda do terraço. Mas gostava dos seus olhos. Faziam-lhe lembrar os seus.

5 comentários:

Isabel J. disse...

Gostei muito, Cristina :)

É a prova q a idade é um estado de espírito... embora às vxs o nosso espírito nos engane e se esqueça de coisas importantes...

:*

CNS disse...

A erosão do tempo faz destas coisas...

Obrigada, Isabel :)

Rita disse...

Minhas colegas de escrita, tenho andado desaparecida, bem sei! Parece que a Alice gostou da ideia de um jantarinho dos seus alunos preferidos! Que dizem? Vou passar e-mail! Beijos

CNS disse...

Olá Rita. Bom ano!
Bora lá! Ficamos à espera do teu mail.
bjs

MMS disse...

Querida Cristina,
Lindo, como sempre.
Beijo grande e obrigada às duas pelas respostas lindas ao desafio

Ritiiinha
Bora daí esse jantar :)