Retorno

As estórias dele só poderia ter acontecido lá. Porque tinham um lugar. Um cheiro. Um céu. As dela podiam ser em qualquer parte do mundo. As estórias dele não cabiam no velho saco da TAP. Transbordavam, sempre que ele guardava lá dentro mais um objecto inútil. Esperando que um dia fossem precisos. Nunca foram. As estórias dela cabiam arrumadas no álbum de fotografias. Todas elas tiradas dentro de casa. Todas elas cheiravam a quotidiano. A roupa nova estreada, a receita por experimentar. Ao lanche com as pessoas de sempre. Ele todos os dias olhava para o velho saco da TAP, arrumado no canto escuro da dispensa. Continua cheio, pensava. E para que não transbordasse, por vezes desdobrava as suas recordações em forma de estórias. Que tinham rectas intermináveis e jacarandás em flor. Que sabiam a cerveja e conversas ao fim da tarde. Ela por vezes lembrava-se do seu álbum. Já lá não cabe mais nada. O retorno já foi feito. Pensava. E encolhendo os ombros, dizia. Nunca me dei bem com o calor de lá. 

4 comentários:

Isabel J. disse...

As estórias, arrumadas ou desarrumadas, tendem a cheirar a mofo se não forem devidamente recordadas.

As always...:)

:*

CNS disse...

Areja-las é preciso :))))

bjs

MMS disse...

as estórias sabem a coisas e têm cheiro de mar - tal como as pessoas. ainda bem que nos contas as que vês, imaginas ou juntas. Obrigada :)

CNS disse...

E não serão as três coisas : ver, imaginar e juntar uma só? :)

obrigada eu , Marta